São incomparáveis os tempos em que se viveu nos anos 1970 ou próximo a isso. Uns dizem que foram bons tempos que jamais voltarão e são inesquecíveis. Outros entendem que foram tempos de dificuldades, de sacrifícios e nada comparável aos tempos de hoje; tempos de conforto, fartos recursos de toda a espécie para tornar a vida mais confortável. Todos têm razão. Entretanto, recordando aqueles tempos que não voltam mais, lembramos que as crianças brincavam, trabalhavam; uns em casa ajudando os pais, outros em alguma atividade com um vizinho que remunerava, de alguma forma, pelo serviço prestado.
Estudávamos com uma única professora para as quatro primeiras séries. Depois, havia o exame de admissão ao ginásio e era outra conquista inigualável para a época. De tudo isso, sobrava muito tempo para brincar: jogar futebol, bola e gude, tropas de osso ou de sabugo de milho descascado em que se formavam rebanhos de gado vermelho e branco, dependendo da cor do sabugo. As meninas, com suas criativas bonecas de pano feitas pelas mães. Promoviam bailes com suas bonecas e bonecos no tronco de uma figueira, sempre presente nas proximidades da casa para proporcionar uma boa sombra.
Bastava o pai ou a mãe chamar uma vez e o pedido era atendido, antecedido de um "sim, senhor" ou "sim, senhora". Ninguém reclamava da educação imposta pelos pais. Ninguém deixava de brincar com os amigos, vizinhos ou parentes, tudo com muito respeito, e eram raras as desavenças entre eles (as). Mas os tempos são outros. Os filhos não mais devem reverência aos pais. Quando muito, em alguns casos, um limitado respeito. É que os tempos são outros. Os pais precisam trabalhar, as vezes em três turnos, para garantir a sobrevivência. Os filhos são criados e educados nas ruas por quem frequenta as ruas. Ou então, não saem de casa, exceção quando frequentam escola. E, em casa, se escravizam pela tecnologia virtual, 10, 12, 15 horas diárias na frente do computador e/ou smartphone.
Nesse meio de comunicação solitário há de tudo: pornografia, indução ao suicídio, drogas, jogos que matam virtualmente o tempo todo e ensinam a matar, a odiar, a se vingar e as crianças ingressam nesse mundo sem nenhum controle - quase sempre. Tornam-se agressivos, rebeldes e inconformados com tudo. Uns chegam à depressão; outros irremediavelmente ingressam no mundo das drogas ou do crime e os pais - não todos, claro. Quando percebem, nada mais há o que fazer e então descobrem tardiamente o mundo em que vivem seus filhos. Esse tem sido o caminho que precisamos reverter e não se faz apenas com educação formal. É preciso muito mais: atenção, cuidado, amor e presença em todos os momentos de nossos filhos. Sim, porque aqueles tempos dos anos 1970 não volta mais.